Fotos: Nathália Schneider (Diário) Moradora do Bairro Juscelino Kubitschek, Leonice Paes mostra o resultado positivo do teste de dengue. Ela foi internada em março por conta da doença
Depois de positivar para dengue, Ledi Saraiva busca se previnir contra o mosquito Aedes Aegypti
Após receber alta do hospital, Ciro Antonio Saraiva reforça as medidas de combate a possíveis focos
Vigilância em Saúde reforça que ajuda da população é essencial para eliminar possíveis focos do mosquito
Com 92 casos confirmados e 219 em investigação, Santa Maria convive com um surto de dengue nos primeiros meses de 2023. A maior incidência da doença ocorre nos bairros Juscelino Kubitschek e São João, localizados na região oeste do município. Apenas nestes dois locais, 48 pessoas foram infectadas pelo mosquito Aedes aegypti, o que representa mais de 52% do total.
Moradores relatam situações e espera por mais providências
A aposentada Leonice Terezinha Paes, 64 anos, faz parte do índice. Moradora do Bairro Juscelino Kubitschek, ela conta que os primeiros sintomas da doença surgiram em início de março deste ano:
– Nos primeiros dias, senti dor de cabeça e no olho. Para caminhar, doíam as pernas. Sentia um gosto amargo na boca, nem água conseguia tomar. Fiquei muito mal mesmo, mas não esperava que fosse a tal dengue. Fui três vezes no Pronto-Socorro. O médico me examinou, fiz o exame e ele disse que não era dengue. Deu-me um remédio e voltei para casa. No dia seguinte, amanheci pior ainda. Não consegui nem caminhar.
Em 11 de março, Leonice foi internada para realizar exames. Na época, ela apresentava fraqueza, dificuldades para comer e levantar da cama. Os resultados constaram baixa nas plaquetas do sangue, o que impulsionou a instituição a solicitar a opinião de um infectologista.
– O médico veio, fez todos os exames e confirmou que era dengue. Ele disse ‘existem quatro tipos de dengue. A sua é uma das piores’. Eu fiquei ali fazendo soro e medicação, porque deu bastante vômito e dor. Achei que eu ia morrer – afirma.
Leonice recebeu alta no dia 14 do mesmo mês. Após o episódio, Leonice pede aos órgãos de vigilância por mais providências:
– O que tem de gente mal aqui… acho que tem que dar um jeito para ver se melhora, porque está difícil e já faz um tempo que está assim. O ano passado aconteceu isso, nem fumacinha vieram pôr. Esse ano está bem pior.
No mesmo bairro, o funcionário público militar inativo, Ciro Antonio Saraiva, 64, e a esposa, a funcionária pública aposentada, Ledi Cardozo Saraiva, 62, também sofrem com a situação. Os dois receberam diagnóstico positivo para dengue. Ao apresentar sintomas como fadiga, dores articulares, cansaço, febre, falta de apetite e sede, dor de cabeça e insônia, Ciro buscou atendimento médico no dia 31 de março em um hospital de Santa Maria.
– Na noite anterior, eu não consegui dormir. Não teve jeito com tanta dor no corpo e na cabeça, febre, um mal estar geral. Fui consultar na quinta-feira de manhã. Fiz os exames e à tarde, olhei aqui em casa. Havia dado positivo para dengue e negativo para Covid. A minha esposa também fez, porque ela começou a sentir os mesmos sintomas no dia posterior. O exame dela foi feito na hora e constatou que teria contraído dengue – conta.
Devido uma baixa na contagem de plaquetas no sangue, Ciro permaneceu internado no hospital de 6 a 10 de abril. De volta ao convivio da esposa, filha e neta de apenas oito ano, ele pretende reforçar as medidas de combate a possíveis focos do mosquito Aedes aegypti.
– Neste país, primeiro precisa morrer alguém para depois ser tomada uma providência. O que me preocupa é que faz três anos que existe esse foco na Região Oeste e eu não vi nenhuma ação efetiva que erradicasse esse problema – conclui Ciro.
Por que a Região Oeste sofre com o surto ?
Há três anos, bairros da região oeste de Santa Maria sofrem com surtos de dengue. Em entrevista à Rádio CDN, o superintendente da Vigilância em Saúde, Alexandre Streb, afirma que são realizadas avaliações epidemiológicas para elencar os principais fatores que geram a incidência nestes locais.
– A Zona Oeste é muito populosa e o tipo de construção é de basicamente residências com uma proximidade uma das outras maior do que as outras regiões. Então, o mosquito que ali prolifera, pica a pessoa, o vizinho e muito mais facilmente o outro vizinho na volta. A densidade populacional da Zona Oeste é um fator que tem facilitado a proliferação. Claro que também existe a questão da Zona Oeste ter problema de fornecimento de água. Às vezes, percebemos que o pessoal na Tancredo Neves, Nova Santa Marta e Juscelino Kubitschek usa muito as cisternas (reservatório de água) e acabam não tampando, o que serve de criatório para o mosquito Aedes aegypti – argumenta Streb.
Medidas de combate ao mosquito
Atualmente, a equipe conta com 26 agentes de saúde pública, realizando cerca 43 mil vistórias por ano. Streb relata que o trabalho feito pela Vigilância em Saúde basea-se nas notificações da doença para encontrar os possíveis focos do mosquito:
– Os nossos agentes de saúde vão até os locais e fazem a vistória dos pátios, verificam os encaminhamentos dados aos pacientes. Se acumula casos em determinado bairro, faz-se uma ação de bloqueio, que é mais concentrada e envolve virar os pratinhos d’água, tampar a caixa d’água e notificar o proprietário para fazer a limpeza do pátio. Por ventura, se for necessário, faz-se a pulverização do produto químico, do larvicida, que são pingados nos locais onde são encontradas as larvas. Então, fazemos ações em cima de todos os casos que chegam, tanto os notificados pelos serviços de saúde quanto aqueles que fazemos busca ativa nos laboratórios.
A participação da população na eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti também é destacada como essencial. No final de março, uma determinação judicial para a limpeza de piscinas sujas em residências localizadas nos bairros Camobi, Nossa Senhora de Lourdes e Pinheiro Machado foi obtida pela prefeitura de Santa Maria, por meio da Procuradoria-Geral do Município (PGM).
Segundo o procurador-geral do município, Guilherme Cortez, os três casos não obtiveram solução na via administrativa, mesmo após os autos de infração, e a PGM ingressou com pedido liminar no Judiciário para que os proprietários fossem obrigados a proceder com a limpeza sob pena de multa diária.
Apesar de destacar como boa a adesão dos santa-marienses neste processo, o superintendente da Vigilância em Saúde não descarta a possibilidade de utilizar novamente o recurso para garantir a segurança de todos.
– Com 26 agentes de saúde pública, fazemos em torno de 43 mil visitas por ano. É claro que há excessões. São poucos os casos em que precisamos acionar judicialmente. Em situações em que fica identificado o risco, como foi o caso das três residências que tinham piscinas sem tratamento, e que não conseguimos a colaboração dos moradores, tivemos que entrar. Mas estes são poucos casos. Quando tivermos situações parecidas com essas, imediatamente, iremos repetir esse método de entrar judicialmente para que a ação seja realizada pelo próprio morador, para que o risco seja sanado pelo próprio morador – afirma Streb.
Faça a sua parte no combate ao mosquito Aedes Aegypti
Mantenha a caixa d’água sempre fechada
Encha de areia, até a borda, os potes e os vasos de plantas
Não deixe a água da chuva acumular em recipientes
Mantenha tampados tonéis e barris de água
Guarde garrafas de cabeça para baixo
Recolha seus resíduos
Use repelente
Utilize inseticida em locais escuros (perto do chão e proximidades de piscina)
Atenção às piscinas, especialmente as de plástico
Denúncias
Caso você suspeite de um foco da dengue, denúncias podem ser feitas para a Superintendência de Vigilância em Saúde das seguintes formas:
Pelo telefone (55) 3921-7159
Pelo WhatsApp (55) 7400-5525
Preencher o fomulário na página do site institucional
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